ARQUEOLOGIA IBEROAMERICANA - ISSN 1989-4104
Artículo de investigación • PDF 1.44 MBenglish


Luis Carlos Duarte Cavalcante,* Benedito Batista Farias Filho,**
Lívia Martins dos Santos,** Laiane de Moura Fontes,**
Maria Conceição Soares Meneses Lage* e José Domingos Fabris***
* Universidade Federal do Piauí, Brasil; ** Universidade Federal do Piauí e Universidade Estadual de Campinas, Brasil;
*** Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil

Resumo
Os abrigos sob rocha conhecidos como Letreiro dos Tanques I e Letreiro dos Tanques II estão localizados na área rural do município de Juazeiro do Piauí, estado do Piauí, Brasil. As paredes de arenito dos abrigos estão decoradas com arte rupestre pré-histórica, pintada em padrões de laranja e tons de vermelho claro e escuro; em algumas partes, gravuras rupestres são observadas. Dejetos de animais, ação de insetos, particularmente cupins e ninhos de vespas, e algumas outras causas naturais, como eflorescência salina, tendem a degradar sua arte pré-histórica. Este trabalho foi então concebido para também contribuir para os esforços em uma melhor descrição dos sítios, como uma condição essencial para compreender o seu real significado cultural, no amplo mosaico de evidências sobre a ocupação humana pré-histórica no nordeste do Brasil, e ajudar a planejar e consolidar sua preservação efetiva.

Palavras-chave
Arte rupestre, conservação, arqueometria, patrimônio cultural, Brasil.

Datas
Recebido: 17-2-2013. Alterado: 18-3-2013. Aceito: 18-3-2013. Publicado: 30-4-2013.

Como citar
Duarte Cavalcante, L. C., B. B. Farias Filho, L. Martins dos Santos, L. de Moura Fontes, M. C. Soares Meneses Lage e J. Domingos Fabris. 2013. Letreiro dos Tanques I e II: problemas de conservação e análises químicas de pinturas rupestres e eflorescência salina. Arqueología Iberoamericana 18: 3-13. http://www.laiesken.net/arqueologia/archivo/2013/18/1.

Considerações finais
Os sítios de arte rupestre Letreiro dos Tanques I e Letreiro dos Tanques II passam por diversos problemas de conservação de origem natural, necessitando de intervenção no sentido de preservar a riqueza arqueológica, desacelerando os processos de degradação. As pinturas rupestres existentes em ambos os sítios possuem em sua composição química o elemento ferro, confirmado através de espectroscopia de absorção molecular na região ultravioleta-visível, sendo que a espécie trivalente, Fe3+, deve estar na forma de hematita (α-Fe2O3), sugerindo o uso de ocre vermelho, pigmento mineral muito utilizado pelos grupos humanos pré-históricos (Lage 1996; Cavalcante et al. 2011; Cavalcante 2012).
As observações feitas mediante estudo estratigráfico indicam que o pigmento foi aplicado na forma líquida e preparado, provavelmente, por decantação, para a retirada dos grãos maiores de silicatos/quartzo. Em seguida a tinta era aplicada no suporte rochoso, sem preparação prévia para receber a camada pictórica.
A observação sob lupa binocular revelou que o depósito salino esbranquiçado existente no suporte rochoso já está agredindo as pinturas e gravuras rupestres e os resultados das análises por EDS revelaram que se trata de uma mistura de sais, contendo majoritariamente os elementos químicos Ca, O, P, Mg e C, sendo que uma das fases minerais foi identificada, por DRX, como oxalato de cálcio mono-hidratado (wewelita). As tentativas de solubilizar esse depósito salino não mostraram êxito com os solventes ensaiados.
A análise arqueométrica é de grande importância, pois a efetivação das intervenções de conservação depende diretamente dos exames pormenorizados e da caracterização química e mineralógica das pinturas rupestres e dos diferentes depósitos de alteração, sendo ainda de alta relevância a identificação microbiológica dos microorganismos existentes nos sítios arqueológicos. Desses resultados e apenas com eles é possível estabelecer uma estratégia de limpeza dos sítios e/ou de controle dos agentes degradantes que neles atuam. Sem o conhecimento rigoroso da constituição químico-mineralógica e microbiológica fica inviável o uso de quaisquer produtos químicos, mediante o perigo real de remoção das tintas pré-históricas, da consequente destruição definitiva dos registros rupestres, e da destruição, mesmo que parcial, do próprio substrato rochoso.

Agradecimentos
Os autores são gratos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelas bolsas concedidas, e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio com equipamentos.

Sobre os autores
Luis Carlos Duarte Cavalcante é professor da Graduação em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre e do Mestrado em Arqueologia da Universidade Federal do Piauí. Tem Graduação e Mestrado em Química, pela Universidade Federal do Piauí, e Doutorado em Ciências (Química), com tese em arqueometria, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem 42 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais. e-mail: cavalcanteufpi@yahoo.com.br.
Benedito Batista Farias Filho é graduado e mestre em Química, pela Universidade Federal do Piauí, e estudante de Doutorado em Química, pela Universidade Estadual de Campinas.
Livia Martins dos Santos é graduada e mestre em Química, pela Universidade Federal do Piauí, e estudante de Doutorado em Química, pela Universidade Estadual de Campinas.
Laiane de Moura Fontes é graduada e mestre em Química, pela Universidade Federal do Piauí, e estudante de Doutorado em Química, pela Universidade Estadual de Campinas.
Maria Conceição Soares Meneses Lage é pesquisadora e conselheira científica da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), professora da Graduação em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre e dos Mestrados em Arqueologia e em Química da Universidade Federal do Piauí. Tem Doutorado em Arqueologia, abordando arqueometria, pela Université de Paris I (Pantheón-Sorbonne). É bolsista de Produtividade em Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem 38 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais.
José Domingos Fabris é professor titular aposentado do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais, atualmente é Professor Visitante Nacional Sênior na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e tem Doutorado em Ciências (Química), pela Universidade Federal de Minas Gerais. É bolsista de Produtividade em Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem mais de 150 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais.

CITADO POR

Referências

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